segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Com objectivo de preparar nova ronda negocial Sara Ocidental: Enviado da ONU reuniu com a Frente Polisário


Rabuni – O novo enviado especial da ONU para o Sara Ocidental, Christopher Ross, esteve este fim-de-semana nos acampamentos de refugiados sarauis em Tinduf, sudoeste argelino, com o objectivo de relançar o processo de negociações entre Marrocos e a Polisário.
Acolhido nos acampamentos por uma tradicional multidão de mulheres sarauis, Christopher Ross foi recebido no sábado, 21 de Fevereiro, pelo primeiro-ministro saraui Abdelkader Taleb Oumar, além do coordenador das relações com a Minurso, Mhamed Khadad, pelo ministro do interior Boullahi Sid assim como por representantes de instituições sarauis presentes nos campos que acolhem 165 mil refugiados.

Domingo, 22 de Fevereiro, o diplomata americano reuniu com o presidente da RASD e secretário-geral da frente polisario, Mohamed Abdelaziz, o qual manifestou ao enviado da ONU que a Frente Polisário está pronta a reiniciar as negociações sem condições com Marrocos sob os auspícios da ONU «no quadro do respeito de todas as resoluções das Nações Unidas».

Após a súbita substituição de Peter van Walsum, o qual bloqueou o processo negocial entre Marrocos e a Frente Polisário, Ban Ki Moon nomeou a 27 de Agosto 2008 Christopher Ross, antigo diplomata americano na embaixada americana na Argélia, como enviado especial da ONU para o Sara Ocidental.

Para Mhamed khadad, membro da delegação da Frente Polisário nas negociações com Marrocos, Christopher Ross conhece perfeitamente bem o dossier do Sara Ocidental e confirmou que reunira com Ross entre 2007 a 2008 na ONU quando o diplomata era membro da delegação americana na assembleia geral Nações Unidas.

O mesmo responsável da Polisário lembrou que após destituição de Peter van Walsum, o qual manifestara posições favoráveis à anexação marroquina do Sara Ocidental, Marrocos bloqueou durante meses o nome escolhido por Ban Ki Moon. «Neste momento Marrocos está desiludido e frustrado pois pensava, e promoveu, que o seu plano de autonomia seria aplicado e que o problema acabara» afirmou Khadad.

A PNN apurou que o V «round» das negociações entre a Polisário e Marrocos poderá acontecer em Abril. Assente na tese de Peter van Walsum que considerou «irrealista a independência do Sara Ocidental» Rabat insiste que a nova ronda negocial não deve partir do «ponto zero».

«Em que pondo estávamos para Marrocos dizer que não devemos começar no ponto zero? Tivemos quatro encontros e não avançamos nada. Marrocos recusou tudo em bloco, mesmo as nossas propostas mais simples de carácter cultural ou desportivo», reagiu Khadad.

Para a Polisário a resolução da questão do Sara Ocidental e a aplicação do direito à autodeterminação do povo saraui, defendido pela ONU, depende da vontade politica da comunidade internacional.

Presa pelos interesses económicos a UE alinha diplomaticamente pelas posições marroquinas e multiplica os acordos comerciais relativos aos territórios marítimos e do Sara Ocidental com Marrocos, «fechando os olhos» às violações marroquinas nos territórios anexados. A Polisário reage criando a Zona Económica Exclusiva (ZEE) da Republica Árabe Saraui Democrática (RASD) que lhe permitirá de passar à «ofensiva jurídica» contra o tratado de pescas assinado em 2005 entre a União Europeia e Marrocos, e defender outros interesses económicos dos sarauis nos territórios anexados, explicou o representante da Polisário em Paris, Omar Mansour.

Com a eleição de Barack Obama as posições dos Estados Unidos podem mudar, no entanto Mhamed Khadad é prudente afirmando que ainda não conhecem a politica exterior da nova administração mas a ruptura com carácter ideológico da antiga administração «já é um avanço positivo». Khadad considera também que a eleição de Obama marcou «o fim da administração imperialista de Bush que dava um apoio incondicional e flagrante ao poder e posições marroquinas».

Apesar das expectativas depositadas em Christopher Ross na resolução do problema do Sara Ocidental o diplomata americano confronta-se com uma paz precária na região e a inflexibilidade de Rabat em aceitar um referendo para a autodeterminação que preveja a independência do território, tentando impor o seu projecto de «autonomia alargada». Por outro lado a Frente Polisário exige que sejam respeitadas as resoluções da ONU que prevêem a auto determinação do povo saraui e defende que «a questão do Sara Ocidental é um problema de descolonização criado em 1975 por Espanha quando Madrid retirou da sua antiga colónia abrindo as portas à ocupação marroquina».

Entretanto a tensão aumenta na região. A direcção da Polisário tenta travar a juventude saraui que considera que cerca de dois decénios à espera que a ONU resolva a questão são excessivos e «a paciência tem limites». A incorporação massiva de jovens voluntários nas fileiras da Polisário são também um preocupante sinal da vontade expressa pela juventude de resolver a questão pela via armada, confirmou Omar Mansour.

Por outro lado, Marrocos tem reforçado as suas posições militares no «muro defensivo» que separa o Sara Ocidental anexado dos territórios controlados pela Polisário. «Temos de estar preparados a qualquer situação, e contar que Marrocos pode passar à ofensiva» disse Khadad.